terça-feira, 15 de setembro de 2009

A descoberta da leitura

Fiquei bem desanimada ao ler uma das colunas do meu colega Marcelo Alencar, completamente conformado por seu filho não gostar de ler: será que é isso mesmo? Que mesmo quem afirme não gostar de ler não pode, um dia, quem sabe, mudar de conduta, principalmente se tiver contato com um texto interessante, bem escrito, que tenha a ver com os interesses da pessoa... Mas um fato na semana passada me fez ter um novo alento.

Meu filho mais velho sempre bradou aos quatro ventos que odeia ler e que aprender Língua Portuguesa não serve para nada. E, para piorar, fica fazendo planos terríveis para eliminar de vez de sua vida a professora da disciplina, envolvendo os colegas em projetos delirantes para atingir seu objetivo. E, claro, com toda essa pré-disposição de não aprender, já pegou três recuperações este ano (na escola em que ele estuda as recuperações são feitas mensalmente, com aulas semanais no contra-turno). Uma delas envolvia a leitura de um livro nas férias.

A professora deu, no último dia de aula, uma lista com dez opções para ele escolher uma. “O problema”, argumentou muito raivoso, “é ela ficar obrigando a gente a ler o que ela quer e não o que a gente quer”. Não dei muita bola para isso, pedi para ele optar por um, fomos à livraria e compramos um exemplar. Ele leu na primeira semana umas 20 páginas de um total de 180.

Porém, no domingo antes da volta às aulas, dia 29 de julho, pego novamente o comunicado sobre a lição de férias e vejo que, no final, tem uma observação: “Será feita uma prova sobre a leitura depois do dia 31 de julho”.

Em que pese eu estar convicta de que prova de leitura é uma coisa muito chata, achei que em alguns casos ela pode ser uma ferramenta boa de convencimento. E ainda fui bem irônica: “Você tem sorte: a prova será somente depois de amanhã. Você tem uma tarde para terminar o livro”. E, por mais sorte ainda, na terça não tinha aula de Língua Portuguesa. Logo, duas tardes. Bolamos uma plano de leitura, em que ele tinha de devorar 80 páginas por dia, eliminando qualquer pausa para televisão, computador e congêneres.

E não é que funcionou! Fiquei até emocionada quando ele me telefonou no meio da tarde de terça e contou entusiasmado: “Mãe, esse livro é super legal! Essa história é o máximo! Ler é muito bom! Vou ler três livros por mês de agora em diante!...” E ele quis me contar todo o enredo naquela hora. Ouvi com atenção, me envolvi com os personagens, e ele foi fazer a tal da prova muito seguro (na verdade, um bate-papo com a professora sobre os personagens, o foco narrativo etc.).

Aproveitei a oportunidade para dar uma forcinha para a professora, que agora não corre mais risco de vida: “Tá vendo como foi importante ela obrigar a ler? Você nunca teria descoberto o prazer da leitura se ela não tivesse te dado essa tarefa!” (Ela fica me devendo essa).

Comentei esse fato com o Marcelo e agora reparto com vocês. Ainda há esperança: um jovem que afirma não gostar de ler pode, um dia, despertar para esse prazer!

Mas falhei em um ponto: deveria ter feito com que meu filho escrevesse em um papel a promessa de ler três livros por mês e assinasse embaixo...

Artigo de Paola Gentili publicado na revista Nova Escola em 07/08/2007.

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